Angel hair

Puxei, puxei, segurei. Quando não consegui mais aguentar, deixei que a fumaça escorregasse lenta por entre meus lábios e então...
Não sabia a quanto tempo estava ali, só que era bom. A língua, de uma forma engraçada ficava dormente e parecia embolar-se em si mesma em busca do céu da boca, seca demais para provocar outra sensação que não aquela de estar há dias sem água em pleno deserto. Fogo intenso percorrendo a garganta, os olhos de lá para cá em movimento rápido, seguindo vagarosos...
Um passo. Estava pisando no macio, no lento, no céu. Podia sentir a vibração de cada coisa em volta de mim, sentir o dinheiro e as chaves no bolso. No terceiro passo ainda estava tudo em câmera lenta, porém no quarto a vida retomou a sua velocidade normal e de novo, no talvez décimo ou centésimo passo, lenta.
Olhei em volta. Tinha que parar de andar ou sequer pensar na possibilidade de falar. Mas tinha algo de relevância maior: meu coração batia tão acelerado que, se não prestasse atenção mal podia senti-lo indo e voltando.
A mão do meu amado pousou sobre a minha e ele me puxou para um abraço. De olhos fechados, aproveitei aquele momento em  toda sua paixão, sendo capaz de senti-la através da pele de nós dois e retribuí-la infinitamente no nosso céu de cabelos de anjo. Ele se afastou, disse que sentia o cheiro em meu cabelo e que me levaria para casa. Não aparentava felicidade.
Estávamos juntos.
Estava tudo bem.