domingo, 1 de agosto de 2010

Hill

- Não é engraçado como as coisas acontecem antes que a gente perceba?
Ele se desviou de seus próprios devaneios para olhá-la.
- O que? - a viu sorrir singelamente e abanar a cabeça, como se fosse óbvio sobre o que tratava.
- Nós - disse ela, pausadamente - sempre viemos a esta mesma colina ver o sol se pôr - ela escorregou os olhos para encontrar com os dele, fitando-o profundamente. - e ainda assim nos perdemos um do outro.
Ele manteve-se alguns instantes em silêncio, apenas na tola tentativa de decifrar por quais mundos vagava o olhar da moça.
- Nos perdemos? - A jovem suspirou e fez um aceno com a mão para que o outro esquecesse, impaciente.
- Você está se tornando demasiado ignorante, Artur.- resmungou, repousando o queixo na palma da mão. - Ou ensurdeceu!
- Nem um, nem outro. - retrucou o rapaz, mantendo o tom sereno - queria saber apenas porquê acha que nos separamos.
A garota novamente cruzou olhares com o moreno, e desta vez teve o cuidado de não desviar.
- Não minta, sei que pensa o mesmo. - apoiou uma das mãos na grama macia e a outra pousou no peito do rapaz - Está sentindo? - Sussurrou - Nossos corações estão separados por vales de distância.
O rapaz sorriu tristemente e tocou-a no rosto.
- Isso a deixa com medo?
- Sim. Os vales são muito longínquos, me assusta pensar que talvez não consiga achar o caminho de volta.
Ele a abraçou ternamente, pousando o queixo no topo da cabeleira ruiva.
- Me diga, Artur, por que o destino fez isso conosco? - suplicou ela, afundando-se no abraço.
Não soube responder. Era certo que a verdade não faltava a Artemis, mas por um segundo seu coração desejou mentir e acalentar a garota com verdades confortantes e não permitir, por tudo que acreditava, que algo a ferisse como feria aquela dor.
- Não sei lhe responder, mas juro que não permitirei que sofra mais. - Prometeu, beijando-lhe na testa - Apenas me ouça atentamente: há males que vem para o bem, Artemis. Coisas que nos machucam e que na verdade vem para afastar outra dor. Compreende?
Artemis compreendia pouco, mas confirmou.
- A lua já apareceu, vamos embora. - Murmurou a moça, trazendo nos olhos um brilho esperançoso. Artur lhe prometera que ficaria bem, portanto acreditava que ficaria.
Ele pegou a mão dela na sua e levou-a para casa.
No dia seguinte, a moça sentou-se na beira da colina a espera do rapaz, pouco antes do pôr do sol. Ele demorava, e por fim não veio. Ela o procurou no dia seguinte, mas ninguém sabia notícias dele e novamente, sentou-se a espera de sua chegada. Ele não veio.
Ele jamais veio.
Tomada de infelicidade, ela ergueu uma última vez os olhos para o céu vermelho e desejou que seu sangue se juntasse àquele céu e sua alma a lua. Fechou os olhos marejados e colocou fim a própria vida, deitada na colina.
Sorria, pois sabia que onde quer que Artur estivesse, ele cumprira seu juramento: não havia mais dor, porque seus corações estavam juntos de novo.

Se eu tivesse o mundo que eu queria ter trocaria tudo por você, só você.
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Não fiquei corrigindo nem nada. Esse é o rascunho mesmo.

Um comentário:

  1. Huuuuh belo texto, muito bom mesmo... Final meio macabro, mas no geral ficou ótimo.

    Não sou muito de escrever esse tipo de texto cheio de significado e etc, meu estilo é algo mais claro e direto, mas ainda assim aprecio muito a forma que tu escreves, guria!

    Ficou ótimo.

    Poseidon.
    www.dominiomarinho.com.br

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