Os olhos luminosos se ergueram para o céu - agora tinha segurança para levá-los ao universo e contemplar a fresta de azul por entre as nuvens negras. Os bracinhos de criança se mantinham habilmente parados no ar, num equilíbrio perfeito entre as passadas e a confiança. Não tinha medo de cair - sabia que seria aninhada pelo vento antes de alcançar o chão e a altura do desgastado muro se tornaria um mero detalhe ante a beleza do que seria mergulhar no sonho de ter asas.
Não olhava para os lados. A rala chuva escura - talvez em tom preto ou vermelho - aos poucos coloria sua pele branca, conferindo-a a imagem sobre o que ocorrera ao seu lado.
Não os conhecia. Não sabia o nome ou a história de nenhum deles, mas cada um carregava a mesma expressão de terror que lhe parecia tão estranhamente familiar! Mas... tinha certeza de que não havia visto nenhuma daquelas pessoas, e seria ridículo pensar que já vira todas elas.
Sorriu, afinal estava sendo boba. A música suave e sem ritmo escapou-lhe por entre os lábios enquantos os olhos se fechavam com delicadeza. Sentiu o peito apertar, mas não se incomodava com aquilo.
Quando abrisse os olhos entraria no que chamava de O Sonho de Olhos Abertos. E lá possuía asas, mas não sabia sua cor ou textura. Estava sempre dançando e tocando a flauta doce que coincidentemente jamais soube tocar. Era feliz - mais que feliz - antes de acordar e então, se deparar com locais tenebrosos como aquele. Lugares de pessoas mortas.
Sabia que sua música ecoava pelos quatro cantos do céu e deixava rastros nas estrelas - sabia que era importante.
Era a deusa do Caos.
Ler a cada frase, deslizar suavemente por essas imagens... Foi essa a sensação. Em outras palavras, estou impressionado com o seu jeito de escrever!
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