Pousou os patins no ringue. A torcida - desconhecidos - gritava pelo seu nome. Dali a um segundo realizaria a prova que por fim definiria mais um passo de seu futuro e portanto, não tinha mais volta. Na mente, a imagem do sonho conquistado - de mais um feito realizado. Precisava se sentir completo.
Respirou fundo, as lâminas ansiavam por arranhar o gelo e seu corpo, temeroso de realizar um passo em falso, preparado como nunca para os movimentos que viriam a seguir. Num ímpeto de coragem, pôde cruzar olhares com pessoas que contavam com ele e reparou jamais ter visto a maior parte daqueles rostos.
Não tinha que realizar nada ali por aquelas pessoas, tinha que ser para si próprio. O que elas eram, afinal? O que sabiam sobre ele?
Sorriu. A torcida veio a loucura. Gritavam incessantemente por ele, mas ainda tinha pouco mais de um minuto para si próprio. Algumas palavras trocadas com a idosa que delicadamente lhe apoiava, olhos fechados e um mergulho profundo em sua alma. Estranho. Os sentimentos dentro de si fervilhavam como fagulhas numa fogueira, e ainda assim torturava-se para acalmá-los. "Não pense nisso", repetia a si mesmo, "mas não esqueça". Estava enlouquecendo? Aquilo em algum lugar fazia qualquer sentido?
Concentre-se. Menos de um minuto agora.
Murmúrios inquietos, olhos pregados na fantasia formosa em tom preto e rosa e a deliciosa graça da arte empregnando os sentidos. Espectativa.
Abriu os olhos bruscamente e, soltando-se da segurança de sua instrutora deslizou para o meio do ringue, com a mais pura expressão de confiança no rosto. Um dos braços erguidos em direção ao céu e outro cruzado em sua cintura, o corpo levemente inclinado em direção ao gelo.
Não tinha mais tempo algum. Ou lugar para fugir. A música ressoou por todo o estádio e os holofotes refletiram os olhos firmes.
Sorriu para si - a magia da arte já o envolvera por completo.
Johnny Weir - Jogos Olímpicos de Inverno, Vancouver 2010.
Perfeito! Adorei mesmo. *-*
ResponderExcluirGrande, Isa xD. Narração muito boa e descrição perfeita.
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