Elephant Gun

Suspirou, deixando lápis de lado. Não conseguia fazer sequer um único rabisco. Ah, infernos! Era tudo culpa daquela maldita pequena de cabelos sobre os ombros e inflamável pele dourada, rodopiando sobre as sapatilhas em direção ao que nem mesmo seus mais insanos caprichos ousaram se aventurar. Quanta audácia! Quem pensava que era? Agia como se fosse a Dama de Todas As Coisas. Ora, mas tão irresponsável! Tão cheia de si, tão...
Apertou os olhos, com as mãos inquietas sobre a mesa. Devia esquecê-la de uma vez por todas. Devia afastar o contorno do rosto e antes de tudo, fugir do riso infantil. Coisas terríveis - ah, inimaginavelmente terríveis! - aconteciam quando um garoto como ele se apaixonava por uma garota como ela - coisas que nem mesmo se permitia falar em voz alta. Cândidas donzelas jamais caíam de amores por desgraçados desenhistas cujo único vintém é aquele que deve e isso a todos era a mais pura de todas as verdades. Sim senhor, até mesmo para ela.
Ela, cujo rosto coloria em linhas tortas todos os cantos do ateliê utilizando de invejável sutileza. Até mesmo as tintas sussurravam seu nome, em busca do inefável amor que da garota se sentia.
Então, ela estava sobre as sapatilhas novamente: pronta a escorregar sobre seu coração e permanecer sorrindo ao oferecer-lhe a mão para se erguer e ser graciosamente derrubado mais uma vez.
Tão lasciva, tão cheia de si... 
Rodopiando por aí como Rainha Das Mil Coisas.  

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Não me perguntem de onde saiu isso. Pensei num romance de época, quando o infeliz desenhista se vê entregue ao amor de uma garota cujo coração jamais terá pois ela o faz de diversão - um boneco - e ele é totalmente louco por ela. Maldade, né? :B
Ah, esse conto é para o Andrey! Devolvendo o presente (desenho) que ele fez de mim. *-* Uma história maluca de um desenhista apaixonado é mesmo o que todos querem. Q
Recomendo lerem ao som de Elephant Gun (Beirut).