terça-feira, 22 de junho de 2010

Efeito Borboleta

O dia nem ao menos clareara quando o despertador tocou. Em meia hora, pensou, abrirá um sol insuportável, iniciando um dia insuportável com gente insuportável. De fato andava de saco cheio da agitação cem por cento do tempo, mas não havia nada que pudesse fazer - dependia dos dias, sóis e pessoas insuportáveis para sobreviver. 5.30 am.
Preguiçosamente, ergueu-se da cama, sonolento. Um breve olhar pela janela tencionando conferir a aparente temperatura e, sem ver grande mudança - aliás, nenhuma - em relação ao dia anterior, rumou para o banho. Onde lera mesmo que todos os dias tinham que ser iguais? Tinha certeza de que alguém lhe falou sobre a importância da rotina... Mas quem?
Chuveiro desligado e estava de pé e vestido na cozinha. Torradas. Café. Uma breve espichada de olhos para o relógio. 7.20 am. Pensando bem, talvez não desse tempo de chegar ao trabalho na hora, faltava ainda uma hora e ele nem ao menos escovara os dentes...
Não. Quem estava querendo enganar? Sempre saía com pelo menos meia hora de antecedência para o caso de possíveis atrasos, portanto seria pontual como sempre. Suspirou, alinhou-se e pegou o carro.
Era um carro bem bonito, do tipo que as pessoas admiram quando o vêem passar na rua. Não era nem de longe o mais caro embora barato não fosse o melhor adjetivo. O homem, por vezes encarava-se no retrovisor,  enxergando somente o desejo novo e estranho de viver uma mudança enquanto a cabeça trabalhava a mil, com a ideia fixa de que talvez aquela pessoa estivesse errada.
Todos que moravam no mesmo lado da cidade que ele sabiam que o curso natural era dobrar a segunda direita e ir pelo túnel. No entanto, ele apertou o volante nas mãos e pegou a esquerda, decidindo por fim que não tomaria nenhum túnel hoje. Algo pesado dentro de si evaporou e um sorriso, mesmo que pequeno, escorregou-lhe pelos lábios. Uma pequena mudança, era só isso.
Há de concordar que naturalmente existia uma razão para que o homem não tomasse o caminho alternativo, e foi exatamente esse motivo que o escapou da mente: engarrafamento. Quando se deu conta, passou a odiar o desejo ridículo de querer mudar e amaldiçoou-se por ser tão estúpido. Agora era simplesmente impossível que chegasse na hora. Àquela altura poderia apostar - se houvesse com quem fazê-lo - dez dólares que seu chefe provavelmente estaria o esperando com uma Glock e duas balas - uma para a cabeça e outra para o tanque do carro.
Uma hora e meia. 90 minutos sem conseguir se mover no meio de uma montanha de carros e gente agitada. Muita confusão, gritaria e fumaça.
Tinha algo errado.
Deu uma olhada no relógio: 8.50 am.
Pessoas batiam nos vidros dos veículos, alguns deles capotando devido ao caos. Bombeiros, ambulâncias, policiais. Desceu do carro, o coração batendo violentamente. O que está acontecendo? Ei, vocês aí! Me expliquem o que...
Levantou os olhos acima da máxima concentração de pessoas e segurou-se para não cair. A torre em que trabalhava era lambida em chamas, explosões e desespero. Pessoas gritavam e corriam ao seu redor, e ele não podia ouvir nada além das batidas do próprio coração.
9.02. Outra explosão, desta vez na Sul. Jogou-se no chão, debaixo das cinzas e sujeira e ouviu mais pessoas. Infinitas pessoas. Estava assustado demais para correr.
Se levantou mais uma vez, minutos ou horas depois a tempo de ver a última atingida ruir e, no que lhe pareceram segundos, a primeira seguir com a irmã gêmea.
Cobriu o rosto e correu.
11 de Setembro, terça-feira, 10.30am.
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Pro Lucão, que deu a ideia e toda a filosofia do negócio =D

2 comentários:

  1. Nossa, que foda 'o' Pior é que dá pra imaginar perfeitamente a situação do personagem, o pânico e desespero. 'o' Tenso mesmo

    Parabéns, querida *-*

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  2. Ficou muito bom mesmo. Aliás, acho que um dos seus melhores textos. xD
    E é engraçado porque houveram mesmo muitas histórias deste tipo neste dia. Uma mulher que esqueceu a chave, voltou pra buscar e escapou de morrer, coisas assim. Intrigante.

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