quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Morte No Ponto De Ônibus

Estávamos no ponto de ônibus, quase na esquina da rua da padaria. A conversa fluía como de costume - sobre o sol infernal do dia, a política, os livros e filmes - e, talvez devido a esta exata casualidade, eu, sincera e vergonhosamente, pouco prestava atenção nas palavras.
Através da visão periférica, via já há alguns minutos uma mulher abraçar veementemente sua filha pequena - no caminho de sete para oito anos - para poucos segundos depois libertá-la; e antes que pudéssemos notar, novamente a criança se encontrava embalada no aperto materno-sufocante. Interrompendo minha interlocutora animada, indaguei à moça por que cargas d'água ela se mantinha tão protetora com a filha. Afinal de contas, estávamos no meio do dia, a rua relativamente movimentada e o ponto de ônibus cheio. Não havia  perigo.
"É muito perigoso" advertiu, balançando seu rabo de cavalo de lá para cá enquanto gesticulava com a cabeça e as mãos. Fitei-a, sem entender e por fim deixei que a maluca cuidasse de suas sandices sozinha - minha amiga começava a se enfurecer pela minha clara falta de tato para com seus assuntos.
Pois então, segundos depois, ouvi o ronco de uma moto vir de longe, da esquina mais distante. Sentia que algo, falando no popular, ia dar merda. Recuei devagar com minha amiga para o interior da calçada, esperando o que quer que fosse aparecer, aparecesse.
Não esperei muito. Um homem vestido de Morte vinha a toda velocidade na garupa de uma moto, deixando para trás o barulho de pneus cantando e carros colidindo. Ele parou na minha frente e começou a remexer no interior da roupa, até que tirou uma arma e, sem pestanejar, a recarregou.
"Abaixa e corre!" Gritei a minha amiga, que olhava estupefata para a cena. Ela obedeceu e eu joguei meus braços e o corpo por cima do dela para protegê-la enquanto corríamos agachadas por entre as pessoas, que simplesmente permaneciam de pé nos olhando passar. Éramos observadas.
Ouvi o barulho dos tiros disparando e, no entanto, nenhum grito. As balas se destinavam a mim, e não aos civis. Eram um presente especial para mim.
Continuei correndo, empurrando minha amiga para frente, o medo que ela fosse atingida me tomando por completo. Nada aconteceu a ela, comigo, por outro lado... Senti a primeira bala passar de raspão pela perna direita e então a segunda atingiu abaixo das costelas também do lado direito. Os olhos começavam a declinar a visão, tornando-a turva nas extremidades, ao tempo em que o corpo parecia acompanhar o ritmo de queda, impedindo-me de sentir os projéteis que vieram em seguida.
E então, acordei.

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